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Ensinar matemática “contando os dedos” é certo?

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Por muito tempo desenvolveu-se a crença de que, para aprender Matemática, a criança não deveria utilizar o próprio corpo ou partes dele. Esta crença faz parte de uma cultura sobre a relação da Matemática com o corpo que extrapola os muros da escola. Acreditava-se que, sendo os objetos matemáticos de natureza abstrata, a contagem nos dedos se constituiria num obstáculo a tal abstração, levando a crer que o sujeito que manipula objetos jamais conceberia os entes matemáticos, neste caso, os números.

Os dedos, de tão fácil acesso, seriam o primeiro obstáculo na construção do número pela criança. Com o acesso aos dedos, a criança iria conferir as quantidades usando-os e nunca sentindo a necessidade de construir o conceito de número, ficando dependente do uso dos próprios dedos para sempre.

Assim, vimos manifestar-se na educação uma ideologia que é retratada em expressões que quase todo professor já ouviu ou pronunciou: “não pode contar no dedo”, “contar no dedo é feio”, “contar nos dedos é coisa de criança”. Tal ideologia sobre a utilização do corpo na aprendizagem matemática produziu várias e graves consequências para a Educação Matemática, com repercussões danosas no processoda alfabetização nessa área.

Aqui, vamos realizar algumas considerações sobre estas questões:

a) O uso dos dedos deve ser valorizado na prática pedagógica como uma das práticas mais importantes na construção do número pela criança, pois, contando nos dedos, as crianças começam a construir uma base simbólica, que é essencial neste processo, assim como na estruturação do número no sistema de numeração decimal. Além disso, a contagem nos dedos pode permitir o desenvolvimento de primeiras estratégias de contagem e operacionalização matemática, ainda maisao assumirmos o limite dos dez dedos das mãos, organizados em cinco dedos em cada. Essas construções serão decisivas para a história de aprendizagem e desenvolvimento das crianças.

b) A exploração das mãos como ferramenta no registro de quantidades e para realizar medições é uma aprendizagem social. São exemplos disso o uso das mãos para representar a idade (desde o primeiro ano de vida), como instrumento de medidas nos jogos (de bolinha de gude, por exemplo), ou, ainda, a aprendizagem social de medir o corpo a partir do palmo. Observa-se que, no início do seu desenvolvimento, a criança utiliza as mãos para realizar atividade matemática e é culturalmente estimulada a fazê-lo antes do processo de alfabetização e fora da escola. Quando a escola coíbe tal prática, ela está indo na contramão do desenvolvimento da criança e negando esta ferramenta cultural que deve ser base fundamental da mediação da construção do conhecimento matemático na escola. Este processo “natural” é observado quando, mesmo a criança dispondo de material de contagem como tampinhas, botões ou material dourado, opta instantaneamente pela contagem apoiada nos dedos. Ao contar nos dedos, a criança em alfabetização está efetivamente fazendo Matemática e se constituindo em um ser matemático.

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c) A escola nega a história da Matemática, pois é sabido que em tempos antigos quantificava-se com pedras (os cálculos) e com os dedos (os dígitos). Com a facilidade de ter os próprios dedos das mãos e pés como “contas”, eles são adotados como base da contagem. Os dedos são naturalmente transportados pelo homem e possuem importante invariância entre os seres humanos, ou seja, a quantidade dez. O uso de partes do corpo para medir a terra, como o passo, os pés, o palmo, o braço (jarda), o polegar (polegadas), e a presença de uma geometria das proporções e simetrias no corpo humano podem ser uma rica fonte de construção de conhecimentos geométricos, mas não aparecem na sala de aula. A própria estruturação dos sistemas de numeração decimal (base dez = dez dedos; base sexagesimal = base sessenta, cinco grupos de 12 falanges, sendo 3 em cada dedo) é excluída do processo de compreensão de como se organizou o conhecimento ao longo da história da Matemática nas diferentes civilizações. Valorizando estes aspectos, contribuímos para superar a ruptura que a escola impõe aos procedimentos construídos ao longo da história.d) Anos a fio, nossas crianças foram proibidas de usar os dedos para descobrir os procedimentos mais práticos de somar (sobretudo sabendo-se que 5 + 5 = duas mãos) e de multiplicar por 6, 7, 8 ou 9, ou mesmo por 19, 29, 39, 49, ou qualquer número menor que 100. Tais possibilidades permitiriam nova significação do espaço e sentido do corpo na educação. Por isso é que se deve incluir o corpo como fonte essencial e primordial do fazer matemático na alfabetização.e) Deve-se superar a dicotomia entre o pensar e o agir, entendendo que, para desenvolver o pensamento matemático, as ações mentais e físicas estão em sintonia e que o uso do corpo é fundamental na prática pedagógica. Não se deve considerar que é mais inteligente quem faz mais rápido, pois há várias formas de atingir o mesmo resultado, não sendo a inteligência medida pela “rapidez”. Considerar a rapidez como parâmetro de inteligência é altamente negativo no processo das aprendizagens, sobretudo no ciclo de alfabetização.

Contar nos dedos SIM, sobretudo no ciclo de alfabetização

Podemos dizer que o contar nos dedos é um reflexo de observações e experiências socioculturais da infância, como, por exemplo, quando o adulto ensina a criança a responder, desde o primeiro ano de idade, a questão: “quantos anos tem?” mostrando uma quantidade de dedos. Muitas músicas que envolvem recitação numérica também tem apoio no uso dos dedos. Entretanto, nas séries mais adiantadas, observa-se uma tendência contrária à utilização dos dedos para a realização da atividade matemática, que é prejudicial ao desenvolvimento natural da quantificação nos dedos. É fundamental que a escola, no ciclo de alfabetização, valorize o uso dos dedos na realização das contagens e cálculo com pequenas quantidades. Contar nos dedos pode implicar tanto a descoberta, pela criança, dos cinco dedos em cada mão, como os dois grupos de cinco formando dez. Mais que isto, a descoberta das quantidades maiores e menores que o cinco, quanto falta para cinco, quanto falta para dez.

Ter duas mãos com cinco dedos em cada, permite, na alfabetização, assim como posteriormente, ter a possibilidade de contagem até dez, já mobilizando competências importantes como coordenação viso-motora-auditiva (vê-mexe-verbaliza) realizando tanto a CORRESPONDÊNCIA BIUNÍVOCA como ORDENAÇÃO e INCLUSÃO (estruturas lógicas que devem ser trabalhadas e são determinantes na construção de número). Esta relação biunívoca pode permitir relações mais poderosas e complexas, quando cada dedo pode representar um grupo, de dez, cem, mil… Portanto, os dedos se tornam em instrumento de apoio a representações numéricas, tal como o é um ábaco.

Mas, contar nos dedos da mão, permite também ter o dez como limitante, requerendo o desenvolvimento de outras estratégias para dar continuidade à contagem, como requisitar os dedos das mãos de colegas para continuar a contagem.

Essas são situações que nossas crianças podem desenvolver em ações de contagem apoiada nos dedos e que reforçam o dez como forma natural de agrupamento, gerando a ideia fundante de nosso sistema de numeração decimal. É importante refletir que, hoje, o agrupamento do nosso sistema é decimal porque os homens, no início da nossa civilização, tiveram os dedos das mãos como instrumento de contagem.

Esta tendência de chamar os colegas para “emprestar” dedos para fazer contagens maiores pode ser tomada pelo professor, especialmente nos segundo e terceiro anos

Como pretexto para trazer a ideia do ábaco humano: um colega que se coloca à sua esquerda levanta um dedo indicando que formou um grupo de dez, dois dedos quando forma dois grupos de dez, e assim por diante. Um terceiro colega mais à esquerda usaria os dedos para registrar a formação de grupos de cem. Esta atividade instiga as crianças a produzirem, com os dedos, grandes quantidades numéricas, com uma representação que se aproxima da estrutura simbólica do ábaco, assim como do quadro de valor-lugar (QVL). Sempre é interessante vermos as muitas formas como as crianças representam números nos dedos, sobretudo quantidades superiores a seis: 5 + 1; 3 + 3, 4 + 2.

É interessante notar que, dessa maneira, faz-se a identificação inicial da comutatividade, quando observam que 5 + 1 é o mesmo que 1 + 5.

Usar o corpo como parte fundamental do processo de construção das ideias matemáticas não obscurece a necessidade do trabalho com os registros feitos pelos alunos. Em todos os artigos e atividades que forem sugeridas neste Caderno é fundamental que o professor fique atento à produção dos registros pelos alunos, ainda que inicialmente tenha que recorrer somente à oralidade.

Este texto foi retirado do Caderno 3 do Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa.

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