A realidade dos números: desafios da matemática no IDEB e no Enem
Segundo o último Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB), os anos finais do Ensino Fundamental continuam apresentando os menores índices de proficiência em matemática. Em 2021, apenas 5% dos estudantes do 9º ano atingiram nível adequado de aprendizagem, conforme os padrões do Saeb.
O reflexo desse cenário no Ensino Médio pode ser observado no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). Em 2021, a média nacional em matemática caiu de 277 para 270 pontos, e cerca de 15% dos estudantes ficaram abaixo do nível mínimo de proficiência mensurável (BRASIL, 2022). Esses resultados evidenciam o impacto cumulativo das deficiências no ensino da matemática ao longo da Educação Básica.
O desafio da recomposição: reconstruindo saberes como quem ergue uma ponte
Imaginemos um rio. De um lado, nossos estudantes — com bagagens distintas, alguns com trilhas interrompidas. Do outro, o domínio da matemática — repleto de estruturas, conceitos e lógica. A recomposição das aprendizagens é, então, a construção de uma ponte. E o pedagogo, seu engenheiro cuidadoso.
A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) estabelece que a educação deve visar ao “pleno desenvolvimento do educando, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho” (BRASIL, 1996, art. 2º). Reerguer essa ponte é parte fundamental dessa missão constitucional da escola pública brasileira.
O ciclo intermediário: transição de fases e a importância do apoio concreto
Entre o 6º e o 9º ano, o estudante vive um período de intensa transformação cognitiva, transitando do pensamento concreto para o formal. Segundo Piaget, essa etapa exige mediações que combinem sensibilidade didática com estratégias acessíveis e experimentais.
A Base Nacional Comum Curricular (BNCC) define competências como a mobilização de conhecimentos, habilidades, atitudes e valores para resolver demandas complexas da vida (BRASIL, 2018, p. 9). Este é o ponto de partida para pensar em práticas pedagógicas que respeitem o tempo de aprendizagem de cada estudante e ofereçam meios para concretizar o que está no plano simbólico.
Pensamento concreto, abstração e o papel dos materiais manipulativos
Na transição entre o pensamento concreto e o abstrato, os materiais pedagógicos se tornam pontes efetivas de mediação. Os produtos da MMP, por exemplo, foram desenvolvidos com base na Neuromatemática, evidenciando que o uso de recursos lúdicos e interativos pode aumentar em até 30% a retenção do conhecimento em comparação aos métodos tradicionais (MMP, 2025).
As Diretrizes Curriculares Nacionais (DCNs) ressaltam que a escola deve promover uma educação contextualizada, respeitando as singularidades e promovendo práticas educativas que dialoguem com o cotidiano dos alunos e com suas diferentes formas de aprender (BRASIL, 2013).
Recomposição da aprendizagem em geometria: experiências práticas com materiais MMP
A geometria, quando ensinada por meio da manipulação de objetos, deixa de ser abstrata e torna-se exploratória e intuitiva. A seguir, algumas propostas que exemplificam essa abordagem:
- Geoplano Quadrado e Triangular (7º ano)
Favorece a construção de figuras planas e o estudo de simetria e área de forma interativa.
- Sólidos Geométricos Planificados (6º ano)
Estimula a percepção espacial e a compreensão das relações entre formas tridimensionais e suas planificações.
- Relações Métricas no Triângulo Retângulo (9º ano)
Permite explorar semelhanças, o Teorema de Pitágoras e trigonometria por meio da construção prática.
- Pentaminós (5º ao 7º ano)
Desenvolve raciocínio espacial e lógico com desafios de montagem e encaixe.
- Geoplano Circular com Frações (5º ao 7º ano)
Facilita o entendimento das frações como partes do todo, especialmente em contextos circulares.
- Tangram Quadrado (4º ao 7º ano)
Potencializa a visualização e classificação de formas, promovendo criatividade e resolução de problemas.
- Jogando com a Álgebra (8º e 9º ano)
Introduz expressões algébricas de forma lúdica, fortalecendo a compreensão de estruturas algébricas.
- Mini Kit Álgebra (8º e 9º ano)
Material manipulável que auxilia na internalização de equações e desigualdades.
Esses recursos estão em consonância com os direitos de aprendizagem e desenvolvimento previstos na BNCC, contribuindo para a recomposição significativa das aprendizagens em matemática (BRASIL, 2018).
A escuta ativa e a educação positiva como pilares
Recompor aprendizagens vai além do conteúdo — é acolher trajetórias. Como propõe Carl Rogers, “a aprendizagem significativa ocorre quando o conteúdo é percebido como relevante e conectado à experiência do aluno”. A escuta ativa, aliada à educação positiva, torna-se essencial nesse processo.
As Diretrizes Curriculares Nacionais reforçam o papel do professor como mediador atento às necessidades e ritmos dos estudantes, promovendo uma prática pedagógica pautada na empatia, no cuidado e no diálogo (BRASIL, 2013).
Fundamentos legais que sustentam a prática
A Constituição Federal determina que a educação é direito de todos e dever do Estado e da família, devendo ser promovida com base na igualdade e na inclusão (BRASIL, 1988, art. 205). A LDB (Lei nº 9.394/1996), por sua vez, estabelece, no Art. 3º, que o ensino deve assegurar a igualdade de condições para o acesso e permanência na escola, bem como garantir padrões mínimos de qualidade (BRASIL, 1996).
A BNCC, documento normativo homologado em 2017, reafirma o compromisso com uma formação integral, equitativa e voltada para a construção de uma sociedade justa e democrática (BRASIL, 2018). Complementarmente, as DCNs de 2013 apontam a importância da articulação entre educação formal e práticas sociais como condição para a formação de sujeitos autônomos e críticos (BRASIL, 2013).
Conclusão: matemáticos em construção
Cada ponte erguida com cuidado e materiais significativos pode transformar não só trajetórias escolares, mas vidas inteiras. Ao integrar materiais concretos ao currículo, o professor torna-se arquiteto da esperança — porque todo estudante merece caminhar com segurança rumo ao seu futuro.
Como bem expressa a BNCC: “O direito à aprendizagem de qualidade exige o compromisso coletivo de toda a sociedade para assegurar que ninguém fique para trás” (BRASIL, 2018, p. 15).
Referências
BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília: Senado Federal, 1988.
BRASIL. Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB). Diário Oficial da União: seção 1, Brasília, DF, p. 27833, 23 dez. 1996.