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Brasil chega à elite acadêmica da Matemática, mas segue entre os piores no ensino básico

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O Brasil foi promovido à elite da União Matemática Internacional (IMU, na sigla em inglês) e passará a integrar um seleto grupo com apenas outros dez países, considerados os mais desenvolvidos em pesquisas na área. O feito coroa longa trajetória iniciada na década de 1950, com a fundação do Instituto de Matemática Pura e Aplicada (Impa) e a abertura dos primeiros cursos de mestrado e doutorado dedicados à disciplina. Por outro lado, escancara a distância entre a qualidade dos centros de excelência e as dificuldades do ensino da Matemática nas salas de aula da educação básica.

Em termos práticos, a promoção do Brasil ao grupo 5 da IMU — composto por Alemanha, Canadá, China, Estados Unidos, França, Israel, Itália, Japão, Reino Unido e Rússia — dá mais um voto ao país na assembleia geral da organização e torna a ciência brasileira mais respeitada dentro da comunidade acadêmica. Por outro lado, o Brasil continua entre os países em que os alunos do ensino básico têm os piores resultados em Matemática.

No ranking do último Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa, na sigla em inglês) o Brasil é o 65° em Matemática, com 377 pontos. Bem abaixo da média de 490 dos países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), autora da avaliação. Já os outros países do grupo 5 da IMU estão entre os 40 primeiros no Pisa. Para o diretor-geral do Impa, Marcelo Viana, a chegada à elite acadêmica da Matemática pode ajudar a resolver os problemas na outra ponta.

— Esse reconhecimento pode ter impacto dentro do país. Ele acaba com o complexo de vira-lata, mostra aos nossos jovens que é possível fazer ciência de qualidade — afirmou, na entrevista coletiva em que anunciou a promoção. — A Matemática é vista como um “bicho-papão” que precisamos acabar.

O avanço do Brasil na IMU responde a um pedido encaminhado pelo Impa e pela Sociedade Brasileira de Matemática (SBM) com informações sobre a situação da Matemática na academia brasileira. O relatório mostra que em três décadas a contribuição do país em relação ao total de trabalhos de pesquisa na área produzidos no mundo saltou de 0,7% para 2,35%. Em 1986, o país produziu 253 artigos científicos, contra 2.349 em 2016.

— A produção se multiplicou por dez nos últimos 30 anos. A Olimpíada Brasileira de Matemática das Escolas Públicas reúne milhões de participantes, até de comunidades indígenas do interior do país — destacou Paolo Piccione, presidente da SBM. — Com a promoção, o Brasil se torna o primeiro país do Hemisfério Sul a integrar o grupo 5. E isso demonstra que o país é capaz de produzir talentos na matemática.

A publicação de artigos em revistas científicas mais do que quadruplicou em duas décadas. Saltou de 73 para 319 entre 1997 e 2016. A presença de pesquisadores brasileiros no Congresso Internacional de Matemáticos se tornou mais frequente e numerosa. Tanto que o país ganhou o direito de sediar a próxima edição. O evento acontece no Rio, no início de agosto, com 13 palestrantes brasileiros em um total de 200.

Outro sinal do avanço brasileiro foi a concessão dos principais prêmios internacionais da área a matemáticos brasileiros nos últimos anos, incluindo o Balzan 2010 para Jacob Palis, o Grand Prix Scientifique Louis D. 2016 para Marcelo Viana e a Medalha Fields — considerada o Nobel de matemática — para Artur Avila, em 2014.

O problema é que a excelência na produção científica não se repete na qualidade da educação básica. Dados do último Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) mostram que apenas 7,3% dos jovens que concluem o ensino médio atingem níveis satisfatórios de aprendizado na disciplina.

— Concordo que as crianças aprendem pouca matemática, os resultados das avaliações nacionais e internacionais colocam o Brasil numa situação preocupante, mas acho que está melhorando — avaliou Maria Helena Guimarães de Castro, secretária-executiva do Ministério da Educação. — Há um esforço no sentido da melhoria e a prova disso é a Olimpíada de Matemática, que no meu entendimento é um grande incentivo para que as crianças percam o medo. Ela cria um clima estimulante para o aprendizado.

Os matemáticos Jacob Palis, o mais premiado pesquisador brasileiro da área, e Artur Avila reclamaram da falta de verbas para pesquisas. O orçamento do governo federal para o setor caiu de R$ 8,4 bilhões em 2013 para R$ 3,2 bilhões ano passado. Palis pediu o investimento mínimo de 2% do PIB em ciência e tecnologia. Avila lembrou que o desenvolvimento da matemática foi bem-sucedido por ser uma ciência que não depende de tantos recursos, como laboratórios e equipamentos.

— Nós conseguimos esse resultado pelas características próprias das necessidades para se fazer matemática, que não são as mesmas das outras ciências — disse Avila.

A secretária Maria Helena minimizou o impacto orçamentário:

— Claro que recursos são importantes, mas não há correlação direta entre os recursos investidos e a qualidade do aprendizado — disse Maria Helena. — Não existe pesquisa que demonstre isso. Basta dizer que no Brasil o estado que tem o maior investimento per capita por aluno de educação fundamental é Roraima. E Roraima não se destaca entre os melhores estados brasileiros em nenhuma área.

 

FONTE: Gazeta Online

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